segunda-feira, 26 de novembro de 2007

A revista e o sonho


Como é sabido, passei minha infância em uma pequena cidade do sul do Pará. Não tive a sorte (ou quem sabe essa foi a minha sorte) de viver em uma cidade grande onde eu pudesse acompanhar mais de perto a explosão tecnológica que o mundo vivia no início da década de 90. Logo, para ficarmos por dentro das novidades, só tínhamos uma opção: As bancas de revistas.
O fato é que com toda aquela loucura de plano cruzado, era complicado conseguir alguma coisa por um preço justo, até porque, quando as revistas chegavam em Tucumã, tínhamos que somar o dobro de seu valor real. Era a maldita inflação! Mas esse era só um detalhe.
No verão de 1990 eu conheci um amigo que era tão viciado quanto eu, com a singela diferença que ele tinha um pouco mais de grana. Sendo assim, as terças-feiras eram os dias mais felizes de nossas vidas. Rotineiramente, esse era o dia que aquele velho mal humorado da banca costumava receber as novas publicações. O caminho era simples, íamos para a escola e aguardávamos com ansiedade a hora da saída. Na maioria das vezes, eu mal conseguia prestar atenção no que era passado em sala de aula. A ansiedade era tamanha, que minha cabeça estava sempre voltada para o mundo fantástico que habitavam as páginas daquelas revistas. Certamente, um mundo que naquela época, só vivi mesmo através das páginas. Vez ou outra, ainda tínhamos a esperança de sermos os grandes vencedores de uma promoção qualquer que era lançada nas páginas da Ação Games e Game Power.
Sem dúvida alguma, o medidor de felicidade de nossas vidas, estava totalmente condicionado aos sorteios que acompanharíamos nas edições seguintes. Por mais pessimistas que fôssemos, não custava nada sonhar com aqueles aparelhos chegando pelo correio em nossas casas. Isso já rendia boas horas de diversão. Além do mais se ser sorteado era difícil pra nós, não seria diferente para os outros milhares de leitores que certamente, tinham o mesmo sonho. Depois de muita insistência do Gilberto, resolvi que também escreveria uma carta para a revista. As nossas chances dobrariam com duas cartas enviadas - era período de natal e eu já estava cansado de ganhar roupas como presente. Aliás, vou aproveitar para deixar registrada a minha indignação com famílias que costumam presentear seus filhos com roupas no natal. Eu duvido que algum garoto ficasse feliz ao abrir aqueles monstruosos presentes e se deparar com uma camiseta, calça ou qualquer outra coisa que se usa no corpo. Era muito decepcionante! Bom, isso claro, reflete a minha opinião.
Mas nós tínhamos a chance de mudar isso. Estava claro que aquilo era um sinal, não tinha erro, com um pouco de sorte e pensamento positivo, aquele videogame seria nosso. Pegamos o endereço, colocamos o que era exigido dentro do envelope com a devida pergunta respondida corretamente: “Qual é a melhor revista de games do Brasil?”, e fomos para o correio. Trêmulos, depositamos nossos sonhos naqueles envelopes. Um longo período de silêncio se estendeu entre nós na volta pra casa. Eu nunca perguntei ao Gilberto o que se passava em sua cabeça naquele trajeto de volta, mas certamente, ele pensava o mesmo que eu. O que faríamos caso fôssemos os grandes vencedores? A questão é que a partir daquele momento, tínhamos que encontrar outra coisa para nos distraírmos, senão, aquela espera seria mais angustiante do que se mostrava no momento. A saída era sempre a mesma, ou íamos até minha casa jogar futebol de botão, ou pediríamos alguns trocados para nossos pais com o único objetivo de destruirmos aquele maldito carateca no fliperama do “Toi Sinhor”. Nos devaneios de nossos dias, vez ou outra discutíamos onde o videogame deveria ficar caso um de nós fosse o sorteado. Para facilitar as coisas, combinamos que qualquer que fosse o resultado, cada um teria o direito de ficar uma semana com o console. Independente da casa em que ele estivesse, é certo que nós dois estaríamos com ele (o videogame). O mês de outubro passou relativamente rápido, o mesmo não aconteceu com o mês de novembro. A edição que revelaria o vencedor seria publicada no início de dezembro, ou seja, tudo indicava que a última semana se arrastaria como um pobre soldado ferido em um campo de batalha. E se durante esse tempo todo sofrêssemos algum atentado? E o pior de tudo, se a revista em que estaria cravado nossos nomes não viesse para Tucumã? Isso era desesperador. Melhor não pensar. No máximo, ocorreriam alguns atrasos no fornecimento, mas aquela edição, seria a única que não poderia deixar de vir. Aproveitei o finalzinho de novembro e estudei para os exames finais da escola, e ao final das provas se tudo ocorresse como o esperado, iríamos até a banca e compraríamos a revista mais aguardada de nossas vidas. Se os meses foram longos, os 3 últimos dias foram eternos. Entrei de férias na escola 4 dias antes da provável chegada da revista. É possível imaginar a ansiedade que assombraram nossos dias. Não dava pra pensar em dormir sem que antes pudéssemos tirar aquela angústia de nossas mentes. Aquele final de semana foi um dos piores finais de semana de nossas vidas. Mas ele passou e a segunda-feira chegou. Sofremos tanto no sábado e domingo, que na segunda, parecia que estávamos anestesiados e já não sentíamos tanto frio na barriga como nos últimos dois dias. Afinal de contas, se alguma coisa era certa, é de que já não podíamos mais mudar o resultado do sorteio apenas com nossos pensamentos positivos, os nomes dos ganhadores, já estariam nas páginas da revista. Se estivéssemos com sorte, nossos nomes, fariam parte dessa lista de sortudos. Como sempre, o Gilberto se encarregou de passar na minha casa para que fôssemos juntos pela manhã à banca. Naquela noite eu ainda pensei que talvez o melhor teria sido pedir para que ele dormisse na minha casa – e se ele fosse atropelado na manhã em que estivesse indo até minha casa para comprarmos a revista? Eu começava a acreditar que conspirações terríveis poderiam estar sendo tramadas porque nós éramos os grandes vencedores. Marcamos para as sete. Se ocorresse algum atraso, talvez eu tivesse razão quando imaginava terriveis conspirações agindo contra nossa sorte. Milagrosamente ele compareceu no horário combinado. Mas ainda faltava pouco mais de uma hora para que a banca abrrisse suas portas, até lá, poderíamos jogar uma partida de futebol de botão. Aquela partida serviu para nos acalmar um pouco. Quando faltavam 15 minutos, nos preparamos e fomos esperar na porta a abertura da banca. Suando frio, o momento que aguardamos por tanto tempo, havia chegado, só tínhamos que abrir aquela revista e verificar nossos nomes impressos naquele papel. Mas um problema ainda ocorria, qual seria o valor daquela revista? E se o dinheiro do meu amigo não fosse suficiente? E se em caso de não termos a quantia suficiente, alguém fosse até a banca e comprasse a revista? Bom, de uma maneira ou de outra, sairíamos dali com aquela revista, nem que pra isso eu tivesse que agarra-la e sair correndo. Tudo estava planejado, se ela havia chegado até Tucumã, ela tinha um único endereço: o de nossas casas.
Nada disso foi preciso. A revista estava lá, e o dinheiro de meu amigo superava o valor da revista. Até ali, tudo indicava que a sorte que até então se mostrou ausente de nossas vidas, havia chegado com um belo e fantástico presente.
Imediatamente fomos até a parte final, onde geralmente são publicados os vencedores das promoções. Fomos diretamente a parte que nos interessava: a letra G. O suspense foi se arrastando quando conferimos e notamos que meu nome não estava por lá. Incrivelmente aquilo não se encontrava em ordem alfabética, sendo assim, ainda poderíamos encontrar algum Gilberto, ou até mesmo, um peculiar Giliade. A busca parecia incessante e mesmo tendo a certeza absoluta que depois de 15 minutos seria impossível encontrar um de nossos nomes por lá, meu amigo não desistia, foi então que, para a minha surpresa ele encontrou seu nome. Aquele grito foi aterrorizante, seu nome estava cravado naquela revista, mas como não tínhamos enxergado aquilo? Me lembro que ele jogou aquela revista e começou a pular como um louco desesperado. Eu resolvi conferir novamente só para ter a certeza de que ele estava certo. De fato, seu nome estava lá. No entanto, o sobrenome não. Com isso, nossas buscas haviam chegado ao fim, mas nossas esperanças só deram uma trégua, depois disso, mandamos várias outras cartas. Nunca ganhamos nada, mas sonhamos um bocado com a possibilidade de sermos os grandes felizardos.

domingo, 25 de novembro de 2007

Restaurando caixas de videogames : aprenda a restaurar as caixas de seus consoles

Há um tempo atrás eu procurava algo relacionado a restauração de caixas de videogames. Não encontrei absolutamente nada na Internet. Por algum motivo desconhecido, nunca se escreveu sobre isso, embora seja algo de suma importância para colecionadores, creio eu.

A caixa de um console talvez seja a que mais sofre com a ação do tempo. Fabricadas geralmente com papelão de qualidade inferior, com o passar dos anos elas quase que inevitavelmente sofrem algum tipo de dano.

Para restaurar essas caixas, na verdade, você não necessita de muitos conhecimentos específicos. É um trabalho relativamente fácil, no entanto um requisito é indispensável: paciência. Se você não a tiver, é melhor comprar outra caixa nova.

A caixa que escolhi para essa "revitalização" é uma das que se encontram em pior estado em minha coleção. A caixa do Odyssey 2, que apareceu por aqui apenas como Odyssey, pouco antes do lançamento do Atari 2600 no mercado nacional, o que fez dele o primeiro videogame de cartuchos lançado no Brasil.

Considerações iniciais

Uma discussão que sempre ocorre na restauração de qualquer material é: até que ponto podemos interferir na originalidade do ítem para podermos conservá-lo pelo maior tempo possível? No restauro de livros, é comum o questionamento sobre novas encadernações, em couro, de brochuras publicadas no início do século XX, que são geralmente edições de péssima qualidade com encadernações idem. Uma nova encadernação descaracterizaria a obra, segundo alguns, embora seja inquestionável o aumento da vida útil do livro que isso proporcionaria. Para colecionadores de videogames, muitos não permitem que modificações sejam feitas no console, como é o caso das entradas AV adaptadas em antigos consoles de saída RF.

De qualquer forma, não estamos falando aqui do console em si, mas de sua embalagem, que originalmente tem o exclusivo papel de acondicionar o videogame. No entanto, para fins de colecionismo, essas caixas adquirem um papel muito mais nobre. Intervenções radicais em caixas também podem ser motivo de polêmica para alguns. No entanto, essa caixa encontrava-se em estado terminal, é preciso que isso seja dito.

Por isso eu decidi modificar todo o seu interior, com a incorporação do papel Panamá, o que confere uma rigidez muito maior à caixa, já muito fragilizada. Em suma, se algo a respeito não fosse feito, essa caixa não duraria muito. Agora, tenho esperança de que ela dure pelo menos uns 40 anos. :)

Vamos às ferramentas necessárias:

- Papel Panamá gramatura 120
- 1 régua de aço 60 cm
- Estilete
- Percalina
- Cola Adesivo PVA Cascorez ou similar
- Cola branca comum(só para retoques)
- Álcool ou acetona para retirada de durex, se existirem
- Nugget
- Silicone


A primeira coisa a ser feita é acabar com os durex e fitas adesivas presentes na caixa. Se eu pudesse dar apenas um conselho a respeito de conservação de papel a qualquer pessoa, eu diria: "Nunca utilize durex ou qualquer espécie de fita adesiva". Eu sei que a idéia é tentadora e em um primeiro momento a colagem com esses materiais dá uma vida nova ao papel, mas com o tempo a cola presente nesses materiais, geralmente de má qualidade, tende a soltar. Ademais, essas colas são extremamente ácidas e elas inevitavelmente passam para o papel, formando manchas indesejáveis de retirada extremamente difícil. Se for para colar algo, utilize cola. Durex, nunca!
No caso dessa caixa, eu retirei cerca de 20 cm de fita adesiva em um dos lados da caixa. Essa é uma das partes mais delicadas, portanto tome cuidado. Nos EUA existe um produto que retira facilmente essas fitas, cujo nome não me recordo agora. Aqui no Brasil, podemos utilizar primeiramente o álcool. Caso a fita esteja com a sua cola já fragilizada, será o bastante. Se o álcool não for eficaz, utilizaremos acetona. Mas com um detalhe importante: Devemos testar a solubilidade das tintas existentes na caixa, principalmente quando se utiliza a acetona. Teste em uma pequena área do canto da caixa: pingue um pouco de acetona (cuidado). Se nada acontecer, a tinta não se dissolver, utilize, mas tome cuidado. Coloque um pouco de acetona em um palito, enrole-o com algodão e vá girando ele, em contato com a fita, à medida que você vai puxando, como mostra a foto.


Para o acondicionamento interno, corte o papel panamá, medindo cada uma das partes e laterais internas da caixa para o tamanho adequado. Com a ajuda da régua, como mostra a foto, corte o papel com o estilete, passando pelo menos 2 vezes sobre o papel, devido à alta gramatura do Panamá.









Em cada um dos cantos da caixa, devemos fazer um reforço, pois, se não o fizermos, esses cantos tendem a sofrer uma pressão por parte do papel panamá, correndo sérios riscos de rasgar. Então em cada um dos cantos de cada pedaço de papel panamá que você cortar (exceto aqueles que não sejam "vizinhos" de outro pedaço de panamá, naturalmente), cole um pedaço de percalina, como reforço. A percalina é comumente utilizada para encadernação de livros e é um material muito resistente, portanto, aguentará a pressão. Ela pode ser adquirida em boas papelarias.



Após cortar tudo e colar os reforços, devemos fixar o Panamá diretamente no interior da caixa. Nessa etapa, utilizaremos o adesivo PVA, pois a cola branca comum não será o bastante. O tempo de secagem dessa cola é de 3 a 4 horas e deve ser feito sob prensagem. No meu caso, eu utilizei uma montanha de livros para prensar cada uma das partes. Não esqueça de prensar todas as partes da superfície, especialmente os cantos porque, se você prensar o meio e se esquecer dos cantos, estes correm o risco de se soltar. E lembre-se: cada um dos pedaços de Panamá devem ser prensados por 3 a 4 horas. Essa é decididamente a parte mais demorada de todo o processo.

Abaixo, temos a situação do interior da caixa, antes e após a intervenção. O essencial desse processo foi que adicionar o Panamá conferiu rigidez à caixa. Infelizmente isso a foto não consegue mostrar:































Terminada a parte interna, partiremos para a parte externa da caixa. Essa parte não tem muito segredo e depende do bom senso de cada um escolher o que deve ser feito. Grande parte dos danos serão sanados, provavelmente, com cola. No meu caso, além de remendar aquelas partes soltas externamente, eu utilizei Nugget, não sem ficar um pouco receoso com a utilização do mesmo. Mas como a caixa do odyssey é composta principalmente pela cor preta e existiam muitas partes rasgadas, eu optei pela utilização desse produto. O resultado final foi surpreendente. Mas é bom utilizá-lo com moderação, aplicando-o somente nas áreas extritamente necessárias.


Por último, eu apliquei um pouco de silicone para dar resistência e brilho principalmente àquelas áreas onde foi aplicado o Nugget, que corriam o risco de ressecar. Abaixo, mais algumas fotos da situação anterior e posterior ao processo de restauração:
































E mais algumas pós restauração (infelizmente não tirei muitas fotos da situação anterior da caixa, que era lastimável - grande falha a minha :P):



















































quinta-feira, 22 de novembro de 2007

O fascínio dos 3 botões


Em um dia qualquer do ano de 1991, meus amigos foram até minha casa me chamar, com uma empolgação bem superior àquela costumeira. Iríamos até a praça, onde, segundo eles, haviam instalado uma super pista de mini buggies. Podíamos observar aqueles fantásticos carros e, se levássemos nossas economias, até dar uma volta neles. Lá fomos nós, o dinheiro no bolso, planejando a nossa corrida, imaginando as fantásticas ultrapassagens. Quando chegamos à praça, juntamos o dinheiro, fomos até o responsável pelo local e perguntamos por quanto tempo poderíamos utilizar aqueles carros. Aquele homem mal encarado sequer se prestou ao trabalho de contar o nosso dinheiro, composto em sua maioria por moedas. Simplesmente olhou para nós e nos disse que aquilo não pagaria nem um minuto de corrida.

Saímos do local decepcionados, a cabeça baixa, sabendo que aquele sonho havia chegado ao fim. Pouco comentamos a respeito disso. Talvez exatamente por causa daquele silêncio é que ouvimos os barulhos. Havia uma música, uns efeitos sonoros que, embora familiares, pareciam novos, ao mesmo tempo . Na certa tratava-se de um novo fliperama, era o que eu pensava. A idéia de jogar em novas máquinas me empolgava, embora eu nem sempre tivesse dinheiro para comprar as fichas. Quando entramos no local, verifiquei que não era bem um fliperama. Aquilo era diferente, haviam TV's ali... E foi então que o vi pela primeira vez. Acho que no início fui meio cético, afinal, aquilo não podia estar acontecendo. Mas o 16BIT cravado no aparelho negro provava que ali mesmo, diante de mim, estava aquele que tanto vi nas revistas que folheava diariamente, descobrindo cada novo detalhe, imaginando como seriam as outras partes daqueles jogos para além das screenshots das revistas. Sim, ele estava ali. Eu estava diante de um Mega Drive. Não sei por quanto tempo fiquei ali, mas foi o bastante para que meus amigos fossem embora sem que nem ao menos eu notasse a falta deles. Eu estava com dinheiro, talvez fosse o bastante para jogar, porém, naquele dia eu, ainda meio bobo com aquela novidade, não jogaria. Dormiria pensando naquilo para que, no dia seguinte, voz e mãos trêmulas, eu perguntasse quanto era o preço para jogar naquelas máquinas àquela moça com quem jogaria Columns mais tarde e que tanto me escutaria quando eu falasse sobre a doença de minha mãe que tanto me preocupava na época.

Lembro-me que o preço me parecia bastante razoável. O dinheiro do lanche, ou parte dele, sustentaria a jogatina. Meu primeiro jogo no Mega Drive foi o Sonic, como foi para a maioria das pessoas. Mas não demorei a descobrir o Golden Axe, jogo que me custou tantas fichas no arcade. Agora, com os "continues", tudo havia ficado mais fácil. Havia também, é claro, Streets of Rage. E Moonwalker. E Super Monaco GP. Pit Fighter, World Cup 92, aquele futebolzinho que era tão bacana. E Altered Beast, que tanto me assustava. Com o tempo, passei a freqüentar diariamente aquela loja e, às vezes, atuava como uma espécie de colaborador, o que me renderia várias horas grátis de jogo.

Bem, o post anterior do Gil veio a calhar para esse aqui. Eu tenho muitos consoles, mas para mim não existe, nunca existiu e nunca existirá nenhum como o Mega Drive. E nem é exatamente uma questão de ser pior ou melhor do que outro, de ter melhores gráficos ou jogos. É principalmente pelo fato de ter sido aquele que sempre povoou meus sonhos (literalmente, eu já sonhei com Golden Axe), pelo fato de muitos jogos terem ultrapassado aquela tênue barreira que fazem dos jogos eletrônicos um simples entretenimento, alcançando um ponto de meu imaginário reservado para aquelas coisas insuperáveis, eternas e inesquecíveis. Acredito que tenha sido assim para muita gente. Certa vez ouvi alguém comentar que o Mega drive havia salvo a sua vida mais de uma vez. Eu não ousei duvidar. Pois bem sei que, se houver um videogame capaz de fazer isso, é esse eterno 16 Bits da Sega.

PS: Nunca tive um Mega Drive durante a minha infância. Hoje eu tenho não um, mas quatro. São esses aí da foto, com a gata. Ainda tem o CDX que não saiu. E ainda quero um Mega Jet, um wondermega, um Nomad e todas essas variações.

O melhor console de todos os tempos!


Qual o melhor console de todos os tempos?
Para os fãs da Nintendo, pode ser o super nintendo, o nintendinho, game cube - ou quem sabe alguém se arrisca em dizer que foi o Nintendo 64? Para os amantes da Sega, pode ser o Mega Drive, Sega Saturn, Sega CD, Dreamcast, etc...
Já em termos de importância histórica, pode-se dizer, que o Odyssey aparece como um divisor de água. O que sabemos, é que quando isso se estende aos fãs, simples discussões podem chegar a sérias agressões físicas. É comum hoje em dia notarmos que uma coisa é certa entre os fãs de videogames: quem gosta da Sega ou da Nintendo, não suporta o nome Sony. No lançamento do Ps3 me lembro de assistir a um vídeo no youtube em que um fã de qualquer outra marca de games comprava o novo modelo da sony para em seguida destruí-lo completamente com uma marreta no meio da rua. “Nintendistas” e “Seguistas” iam ao delírio com aquela cena de destruição. Bom, eu confesso que o meu problema com a Sony sempre se deu à qualidade dos jogos que saíam para as plataformas que ela costumava concorrer. Opinião de jogador, sempre achei as versões para Sega Saturn melhores do que as versões para PSX. Mas isso variava muito. Até porque o Sega Saturn possuía os jogos que eu gostava de jogar. Como as versões de Street Fighter e The King Of Fighters, que sem dúvida alguma depois das versões para Neo Geo, eram as mais fiéis. Isso sem falar que o cartucho de expansão deixava o Saturn dois passos à frente do PSX. O fato é que minha paixão pela Sega nasceu bem antes dessa batalha dos 32 bits, mais precisamente, ela se deu no final do ano de 1989, quando eu vi pela primeira vez um Mega Drive. Até hoje, jogos como: Sonic, Streets Of Rage, Batman, Road Rash, Battletoads e vários outros que foram lançados para o Mega, são itens obrigatórios para qualquer fã de videogame. A era dos 16 bits sem dúvida alguma foi a que trouxe maior glamour para o mundo dos games.

Como não pretendo seguir uma ordem cronológica por aqui, eu volto a uma outra batalha que foi travada nos anos 80. A guerra entre Sega e Nintendo, até então, as duas assistiam quase impotentes, a Atari reinar no mercado Nacional com suas várias versões de um dos consoles mais importantes da história dos games, o aparelho que levava o mesmo nome da empresa: ATARI. O tiro no pé foi dado no início dos anos 90 com o lançamento do charmoso, mas ineficiente Jaguar. Era tudo que Sega e Nintendo precisavam para assumirem a liderança do mercado de Video Games.
Se a Nintendo tinha o Nintendinho, a Sega tinha o Master System. Se a Nintendo tinha seu Mario, a Sega tinha seu Alex Kidd. E assim foi até a era dos 16 bits, quando a Sega criou aquele que seria seu último e definitivo mascote: o porco-espinho Sonic. Já a Nintendo, continou com seu Mario, sempre fazendo muito sucesso em todos os consoles que viria lançar nos anos seguintes. Enquanto a Sega se gabava de ter o jogo mais rápido para um console lançado até então, a Nintendo argumentava que tinha o jogo mais divertido e com o personagem mais carismático. O que podemos dizer é que até os 32 bits pudemos presenciamos uma batalha saudável entre essas duas empresas. Durante esse período de transição dos 16 bits para o 32, a Sega começou a cometer os erros que a faria sucumbir uma década depois. Game gear, Sega CD, Sega Nomad, Sega 32X, entre vários outros que sequer saíram dos protótipos. Com a necessidade de sair na frente, esquecia o mais importante: Os jogos. Ao deixar de investir em um único console para lutar diretamente com a Nintendo e com a Sony que começava a medir forças no mercado de Videogames, a Sega tentava fisgar todo tipo de consumidor e se esquecia que o mais importante eram os softwares. Com tantos erros, a derrocada veio com o lançamento do Dreamcast que seria seu último console lançado.
Já a Nintendo, cometeu alguns erros que quase fizeram com que ela fosse para o mesmo caminho da Sega. O Add-ON com CD para o Super Nintendo foi um erro que fez a empresa desperdiçar milhões e culminou com o surgimento de uma nova concorrente que viria a se tornar o maior nome da indústria de entretenimento do século 21. Afinal, a Nintendo vendeu seu projeto fracassado para a Sony. Certamente um erro. Isso não chegou a prejudicar a Nintendo, tendo em vista que uma das armas fortes da empresa são os portáteis. Nesse ramo, ninguém impera mais do que a Nintendo, e nem mesmo o Psp pôde colocar fim à hegemonia da empresa. Com tantos bons consoles, eu creio que seria difícil dizer qual seria o melhor console de todos os tempos. O mais correto nesse caso, julgo, seria classificar por eras. Sendo assim eu ainda teria que abrir uma exceção e dar um empate para os 16 bits, já que Mega Drive e Super Nintendo não merecem um segundo lugar. Na era dos 8 bits, eu ficaria com o Nintendinho, pela diversidade de jogos. Na era dos 32 bits sem sombra de dúvida eu voto no mais imponente e resistente console: o glorioso Sega Saturn. Como minha era de games não ultrapassa os 32 bits eu só cito o Dreamcast porque foi o último tiro da Sega contra uma indústria que começava a deixar de lado a diversão para criar jogos bem próximos da realidade, mas sem um pingo de diversão. Para a sorte dos amantes de games, mais tarde a velha Nintendo despertaria para a realidade e devolveria o que nunca devia ter sido tirado de nós com seu Wii... A diversão.

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Porque não videogames?


A missão que tenho com esse blog é de não deixar que ele se torne mais um dos vários projetos estagnados de minha vida. Estava pensando sobre o que devia escrever. Claro, o óbvio, afinal, isso aqui é sobre videogames. Mas me veio à cabeça a seguinte pergunta: Que relação os videogames tiveram com minha vida e ainda têm? No fundo, eu ainda me sinto o menino de 18 anos atrás que ficou fascinado ao ver pela primeira vez aqueles mal traçados gráficos em um fliperama. Por outro lado, a minha vida adulta me trouxe a possibilidade de conquistar tudo que eu não podia quando era um servo dos domínios alheios. A partir disso, qual seria o papel dos videogames na minha vida atualmente? Afinal, eu ainda observo com os mesmos olhos encantados de 18 anos atrás para todos os meus consoles que ornamentam lindamente a minha estante; E sinto a mesma emoção ao pegar aqueles jogos em minha prateleira e limpa-los um a um.
Sempre temi namoradas por medo de que elas pudessem implicar com minha coleção. Por isso, sempre fugi das tipo: Lisa Presley que fez com o que pobre Nicolas Cage vendesse grande parte de sua rara e maravilhosa coleção de quadrinhos. Para os que não estão por dentro da história, seis meses depois eles romperam o relacionamento e ele ganhou de presente, além do pé na bunda, uma culpa de proporção inimaginável por ter cedido aos caprichos daquela destruidora de coleções. Srsrs
Para a minha grande sorte, tenho uma namorada que não joga comigo, mas que adora me ver perder a cabeça com o maldito Mr. Bones. Aquilo sempre garante boas risadas a ela. Quanto a mim, só não quebro o controle, porque o alvo certamente seria a cabeça dela. E nesse caso, isso não seria nada bom. Mas voltando ao assunto que abordei no início, a grande dificuldade para um colecionador de videogames diz respeito à visão preconceituosa que somos vítima ao abrirmos a boca para alguém com mais de 20 anos e revelarmos que fomos capazes de pagarmos seiscentos reais em um videogame que não se fabrica mais. A pergunta feita sempre é: Mas porque comprar um videogame que não se fabrica mais? O susto torna ainda maior ao revelarmos que provavelmente aquele videogame nunca deixará sua caixa. Tudo bem, eu confesso que é muita grana para ficar parada. Mas agora me sinto no direito de questionar. Pra que diabos serve esse capitalismo consumista? Sei muito bem que mulheres compram sandálias que no máximo usam uma vez, que sujeitos compram pranchas de surf sem morar no litoral, que outros compram tacos de baseball com o único objetivo de ornamentar seus respectivos quartos, que alguns compram bolas de basquete mas que nunca sequer arremessaram contra uma cesta... Então porque diabos eu não posso ter um videogame com o mesmo intuito? É a velha e maldita visão preconceituosa que algumas coisas são hábitos exclusivos de determinadas idades.
Se puderem responder minhas perguntas, eu prometo que respondo porque tenho 3 sega saturn. Srsrsrsr

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Os acessórios mais bizarros de todos os tempos: TOP 10

Ao longo dos anos, a indústria de videogames investiu pesado em acessórios que visavam deixar o console ainda mais poderoso e atrativo. Em muitos casos, no entanto, a necessidade de inovar era tamanha que acabavam por lançar muitos acessórios antiquados, alguns até um tanto quanto inúteis. Abaixo eu selecionei uma lista dos 10 acessórios mais sórdidos:


10º lugar: SNES Super Scope

Muitos sonhavam ter uma, mas poucos realmente possuíram uma Super Scope. O acessório, demonstrado na caixa do SNES, foi objeto de desejo de vários gamers que possuíam o console. Na prática, porém, o acessório era um item um pouco incômodo, que necessitava de 6 pilhas AA para seu funcionamento, era um tanto quanto impreciso e possuía uma lista de jogos compatíveis muito limitada.


9º lugar: Atari Jaguar CD

O add-on da Atari visava transformar o Atari em uma (privada?) potente máquina capaz de executar jogos em CD-ROM. No entanto, a biblioteca de jogos do sistema, além de ter sido muito pequena, era, no mínimo, de qualidade duvidosa. O Jaguar foi o último console a ser fabricado pela Atari.








8º lugar: Sega Activator Ring


Esse acessório, desenvolvido para o Genesis/Mega Drive, era uma espécie de anel octogonal, que contava com um sensor de movimentos que poderia reproduzir na tela os movimentos do jogador. Um conceito bem à frente de seu tempo, mas que na prática, não funcionava muito bem. Poucos jogos foram desenvolvidos para o acessório, sendo o mais notório, "Eternal Champions", sendo que em outros jogos a jogabilidade era, por assim dizer, sofrível.




7º lugar: Power Glove
Desenvolvida para o NES, esse curioso controle em forma de luva da Nintendo podia reproduzir movimentos feitos pela mão do jogador. Se funcionava bem ou não, eu não sei direito, mas a verdade é que eu sempre quis ter uma dessa.














6º lugar: Vectrex Light Pen
Por si só, o console Vectrex já era uma curiosidade cheia de exclusividades: além de ser o primeiro console a utilizar tela própria, também foi o primeiro e único console que possuía jogos exclusivamente vetoriais. Quem jogou essa coisinha sabe que, na pior das hipóteses, é uma experiência inesquecível. Esse acessório, lançado para o sistema em meados dos anos 80, estava anos luz à frente da tecnologia da época: tratava-se de uma caneta óptica, que podia reproduzir na tela monocromática do console simples desenhos. É uma pena que o Vectrex tenha sido um dos atingidos pelo crash do mercado em 1984 e esse novo conceito introduzido pelo console, tenha sido abandonado.




5º lugar: Odyssey Voice Module
Primeiro console lançado no Brasil, com conversões de jogos com personagens brasileiros, como o clássico "Didi na mina encantada", baseado no original "Pick Axe Pete", o Odyssey teve uma estratégia de marketing audaciosa, para fazer frente ao Atari 2600, já que seus gráficos eram inferiores aos deste último. Esse curioso acessório, que tinha como Slogan de campanha "O Odyssey resolve falar", era um tijolo que permitia ao Odyssey reproduzir frases simples em alguns jogos, com uma voz sintetizada um tanto quanto macabra. Eu tenho certeza que, se tivesse conhecido o acessório durante a minha infância, certamente isso me custaria vários pesadelos.









4º lugar: Atari 5200 Trackball controller
Em uma tentativa desesperada de corrigir a cagada que fez ao lançar um console com um controle tão ineficaz quanto os originais da console, a Atari lançou este único, poderoso e grande, grande, mas muito grande mesmo, controle. Apesar do tamanho, muitos afirmam que este foi um dos melhores joysticks já produzidos até hoje. Eu, infelizmente, ainda não tive a oportunidade de testar. Enquanto isso, sou obrigado a sofrer com os péssimos controles do 5200, que acabaram por liquidar esse console.











3º lugar: Game Boy Camera
Lançada em 1998, em uma época em que as câmeras digitais eram equipamentos quase inexistentes, a game boy camera era realmente um exemplo de tecnologia avançada. A câmera capturava imagens em preto e branco instantaneamente na tela do portátil, com uma qualidade... Bem, basicamente ela transformava paisagens e pessoas comuns em cenários e personagens de filmes de terror. Vejam vocês mesmos na foto aí ao lado. Por incrível que pareça, existem fotologs especializados em fotografias capturadas por essas câmeras.




2º lugar: U-Force

O U-Force parecia com várias coisas, menos com um controle. Desenvolvido para o NES, aqui mais uma vez vemos uma tentativa da Nintendo em utilizar sensores de movimento. O U-Force criava uma espécie de campo de força, supostamente capaz de detectar a direção e a velocidade do movimento das mãos. Claro que o resultado disso tudo foi um dos piores controles já fabricados em todos os tempos.












1º lugar: Atari Mind Link

E o grande vencedor não poderia ser outro. Embora nunca tenha sido lançado comercialmente, o Atari Mind Link era resultado de uma parceria entre os engenheiros da Atari e uma companhia extraterrestre, que visava compartilhar a tecnologia alienígena da telepatia. Era isso mesmo o que prometia o acessório: instalado na cabeça do jogador, o Mind Link podia captar os seus pensamentos e reproduzi-los nos jogos!!! Se tivesse sido lançado, certamente figuraria entre os maiores golpes de marketing da história dos videogames.


segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Uma máquina de elaborar estratégias


A idéia de criar um blog que falasse um pouco sobre o fascínio dos videogames em nossas vidas, não é nova, afinal, projetos é o que não nos faltam. Já fizemos planos de montarmos uma banda, um sebo, de viajarmos juntos (em partes realizamos esse, mas não completamente, afinal, o Fabio – que será mais tarde retratado em outro texto que pretendo dedicar exclusivamente a ele, não esteve conosco), de comprarmos um carro, etc. Portanto, como podem notar, criar projetos é um de nossos passatempos favoritos. Mas como um dia a “maturidade” chega, você se vê encurralado em um beco sem saída do tipo: ou você escala aquela parede lisa ou se joga com tudo em algum abismo. O certo é que esses projetos de alguma forma são desenterrados e finalmente ganham vida. Acredito que para as coisas funcionarem elas precisam de uma dose de impulsividade, se não fosse por isso, eu não teria escrito o primeiro e agora o segundo texto para esse blog. E tudo começou depois que o Fernando finalmente conseguiu comprar o tão desejado Sega CD de gaveta. Tenho certeza que essa foi a dose extra de entusiasmo que precisávamos para colocarmos em prática esse “velho” projeto.

Quem vai ler isso aqui certamente tem alguma ligação com esses incríveis aparelhos eletrônicos que pode-se dizer, é uma máquina de fazer amizade bem eficiente. E me corrijam se eu estiver errado. Querem um exemplo? O outro dono desse espaço conheci através de uma conversa direcionada aos 32 bits. E isso já faz mais de 9 anos. E todos os meus amigos se não são fãs de videogames até os dias de hoje, já foram algum dia criaturas que viviam com um controle na mão e matavam aulas para jogarem top gear ou mortal kombat em algum game de esquina. O fato é que quem me conhece sabe muito bem que não sou um grande jogador. Hoje, atenho-me mais à tarefa de colecionar, o fascínio que esses objetos causam sobre mim, são meramente ilustrativos. Observa-los já me proporciona grande prazer.

O interessante é que até meados dos anos 90, boa parte do que se sabia sobre essas “dóceis criaturas” era de que elas eram responsáveis por estragos causados nos aparelhos de tv, daí a grande necessidade dos pais de comprarem um segundo televisor para que seus filhos pudessem usufruir de todo o prazer que esses aparelhos eletrônicos eram capazes de proporcionar. A partir disso, se os pais não tivessem condições financeiras de comprar um segundo televisor, o negócio era partir para a apelação. E isso, ia desde uma promessa de nota máxima em matemática, até uma chantagem emocional do tipo: Vou me atirar na frente do primeiro caminhão que passar. O certo é que tudo isso nunca passou de uma lenda mesmo. Mas até hoje, minha mãe acredita veementemente que os videogames são os grandes responsáveis por notas baixas e por queima de televisores. E olha que nunca fui de dar trabalho na escola e nunca queimei um televisor com um videogame meu - mas confesso que já matei aula para jogar top gear e International superstar soccer.

Se convencer a minha mãe a ceder sua tv para que eu pudesse jogar videogame era uma tarefa difícil, pedir ao meu avô para vender uma vaca para que então meu sonho pudesse ser realizado, era o mesmo que declarar guerra aos Estados Unidos.

Meu avô fazia o tipo John Wayne que não via outro sentido a não ser o de aumentar constantemente o rebanho bovino. Tentar convence-lo, era desperdiçar tempo. Tratei logo de elaborar uma estratégia: Eu poderia pedir à minha mãe para que o convencesse. Pra isso, ela só teria que contar uma mentirinha. Se ela ia topar não importava, mas eu tinha que tentar. Foi o que fiz. No entanto, a sorte estava do meu lado e eu não precisei recorrer a uma mentira assombrosa para ver meu sonho se realizar. Ela já tinha planos de comprar uma máquina de datilografia, e claro, isso exigiria que uma vaca fosse vendida... Se eu tivesse a sorte de encontrar uma por um bom preço, pegaria o restante do dinheiro e compraria meu tão sonhado Atari. Eu havia sido o escolhido para ser o dono daquela caixa com uma família estampada na frente, uma vez mais a sorte sorria pra mim. Minha tia que era proprietária de uma farmácia, tinha uma “olivetti” portátil que custava a metade do preço de uma máquina nova e grande, e o melhor, estava disposta a vende-la. Foi só convencer minha mãe que eu não precisava de uma máquina melhor do que aquela e dizer que com o restante da vaca, eu poderia ter o meu tão sonhado Atari 2600. Negócio fechado, só tive o trabalho de fazer algumas promessas para minha mãe e correr para a loja e retirar meu fantástico console. Missão cumprida, era hora de encontrar alguém que tivesse jogos, e garimpar pela cidade em busca de fitas, me transformou no “Indiana Jones” de Tucumã.

O primeiro contato


O ano era 1989.

O mundo vivia a queda do muro de Berlim, e me lembro claramente de assistir pela TV o repórter Pedro Bial em cima do muro que dividia as duas Alemanhas.

1989 também foi o ano em que me mudei em definitivo para Ourilândia do Norte. Até então, eu morava na fazenda com meus avós, e por lá havia cursado o meu primeiro ano. Me lembro da primeira carta que enviei à minha mãe. Na carta, pedi um boneco do superman que como haviam me relatado, voava. Minhas primas que moravam em Goiânia haviam me contado essa mentira, e eu inocentemente acreditei. Talvez isso tenha contribuído para que depois de alguns anos em que finalmente pude entrar em contato com os quadrinhos, eu tenha tomado ódio do Superman, tornando-me um fã do Batman.

Mudar para a cidade, foi sem dúvida alguma um dos grandes desafios da minha vida. Meu avô sabia que para o meu próprio bem eu devia ir, no entanto, sempre fazia questão de advertir quanto aos problemas que eu por ventura encontraria e como deveria me defender. Além do mais, ele acreditava que eu poderia tranquilamente estudar até a 4ª série do ensino fundamental na fazenda, mas ir para a cidade era uma exigência de minha mãe e contra isso, ele pouco podia fazer.

Energia elétrica era uma palavra que passava longe do meu imaginário naquela época, no máximo, quando queríamos assistir alguma coisa, tínhamos que implorar para meu tio tirar a bateria da lendária C-10 para que pudéssemos assistir algum filme do Silvester Stallone na tela quente, ou Sheena – A rainha da Selva na sessão da tarde. Geralmente, perdíamos a batalha porque meu tio dava mais ouvidos para as mulheres que obrigatoriamente exigia que a tv deveria ser ligada no horário das novelas. Isso era triste, mesmo assim, um dos marcos da minha vida são exatamente duas novelas desse período: Que rei sou eu? E Top Model. Ao menos a última tinha na trilha sonora uma música do Led Zeppelin. Enquanto que a primeira era uma divertida sátira da política brasileira.

Tudo era fascínio na minha nova vida. Na escola, os garotos criavam histórias imaginárias de que no “estrangeiro” já havia sido lançado até o Rambo 10. Todo garoto que vivia em Ourilândia na época tinha um álbum de figurinhas do He-man, uma faca de plástico do Rambo e uma faixa vermelha que era usada pelo herói, sem contar dos Iô-Iôs coloridos dos salgadinhos skynny. Se não quisesse ser excluído dos grupos, obrigatoriamente você devia consumir skynny e ter todos esses acessórios. O Skynny na época era uma espécie de salgadinhos da Elma chips de nossos dias. Éramos fascinados por todos esses elementos, mas alguma coisa ainda faltava. E essa “coisa” veio um pouco mais tarde.

No final de 1989 eu já estava terminando a minha terceira série do ensino fundamental. Minhas notas eram razoavelmente boas, mas não tão incríveis como as da primeira série. Não consigo me lembrar com exatidão dos meus colegas de classe, mas tenho memória fresca para o soco que levei na boca de um sujeito que choquei durante o intervalo (tudo porque corríamos como desesperados e isso nunca foi explicado. Afinal, porque diabos crianças correm sem direção no intervalo de aula?). Mas enfim, depois de chorar como um covarde eu constatei que meu dente ainda se encontrava no lugar e isso me acalmou. Srsrs. Mas eu devo grande parte da minha nova descoberta a esse soco proferido. Afinal, se não fosse por ele, eu não teria pedido escolta ao Jackson* para voltar pra casa. E foi durante a volta pra casa, que vi pela primeira vez uma tv que você mesmo controlava sua programação. Eram os fliperamas que haviam chegado em Ourilândia. Atônitos, vários garotos de minha idade, assistiam fascinados os movimentos feitos por uma galera mais velha que pareciam bem familiarizados com aquelas máquinas. Um determinado jogador demonstrava grande experiência e conseguia desviar de vários projéteis com sua nave intergaláctica. Eu estava fascinado com tudo aquilo. Mas no canto da sala estava reservada a maior surpresa daquele lugar. Um jogo onde não se apertava botões, você usava apenas duas alavancas para executar o golpe. O primeiro jogo de luta que vi. Um carateca que gritava “iponnn” toda vez que vencia o adversário. Nunca mais vi esse jogo na vida, e o máximo de coisas que sei sobre ele é o que acabei de relatar. No entanto, assim que começávamos a ficar treinados nos movimentos, cruelmente o dono do fliperama invertia os fios e tínhamos que memorizar uma nova sequência para vencermos o adversário. A primeira crueldade capital com a qual me deparei. Não era interessante para o proprietário que com uma única ficha você chegasse ao final do jogo. Começávamos tudo de novo, mas isso não importava, o futebol tinha um novo adversário... e muito forte.

Justificar

* Jackson era uma espécie de capitão do time da escola. Todo mundo o respeitava. Além de proteção, andar com o Jackson poderia melhorar sua "moral" com as garotas. Srsrs

domingo, 11 de novembro de 2007

As famílias e as caixas

Meu primeiro contato com o mundo dos videogames se deu em meados dos anos 80. Era o ano de 1985, o ano da glasnost, da perestroika, mas isso estava, é claro, muito distante de mim. Naquela época, mesmo a minha cidade parecia um lugar grande demais.

A única coisa que parecia importar, naquele momento em que vi meu tio, de volta de sua última viagem, era aquela caixa. Eu me concentrava em seu aspecto, que mostrava o aparelho imponentemente na frente, algo que parecia uma criatura prestes a atacar. Logo atrás, em pequenos quadros, haviam desenhos e fotografias de alegres famílias. Quando ligaram-no, eu mal notei que as cores eram monocromáticas, mesmo sendo a TV colorida, um defeito que vi ao longo de toda minha infância sem saber se era um problema do aparelho ou da TV. Apenas olhava maravilhado para aqueles estranhos sinais na TV, aparentemente controlados pelas pessoas de minha família. Naquele dia, sequer joguei, mas as imagens ficaram em minha mente até a hora em que fui para a cama. Para mim, aquilo tudo significava apenas uma coisa: Meu tio, sabe-se lá como, havia comprado uma caixa de sonhos.

Tratava-se, é claro, de um atari 2600, que para nós brasileiros, chegou um pouco tarde. Enquanto o mundo vivenciava os reflexos do "crash" do mercado de videogames, em 1984, por aqui nós começávamos nossas incursões por esse universo.

Vejo que, como sempre, minha habitual mania de falar sobre eu mesmo fez com que eu perdesse o foco desse post inicial. Eu pretendia, hum, falar sobre caixas. Caixas de consoles. Quem coleciona games sabe que, um console na caixa, pode valer às vezes o dobro de um console loose. E creio que as caixas de videogames exercem um fascínio que vai muito além de sua utilidade de manter o console em boas condições. Pode parecer bobagem, mas, acho que
é difícil explicar aquela sensação que alguns de nós experimentaram e ainda experimentam, enquanto olhavam para essas caixas, notando cada detalhe, observando as fotos daqueles jogos que ainda não possuíamos.

É interessante notar as mudanças no design dessas caixas ao longo dos anos. No início, as famílias alegres. Sempre alegres. Talvez isso fosse uma estratégia da indústria de consoles domésticos para mudar o inevitável "pé atrás" que os pais tinham com relação aos videogames. Os fliperamas eram considerados antros de delinqüentes, lugares feitos para desvirtuar as crianças.

Com o passar dos anos, as imagens de famílias nas caixas foram deixando de existir, passando a ser substituídas, gradativamente, por imagens dos próprios consoles apenas. Acho que, com isso, o videogame foi aos poucos, abandonando de vez suas intenções de ser um entretenimento familiar, passando a ser visto como um jogo freqüentemente controlado pelos pais e, em diversas ocasiões, objeto de inevitáveis conflitos familiares.


O desconhecido Arcadia 2001 também mostrava a alegria familiar em sua embalagem











O Odyssey 100, primeiro da série de pongs da
Magnavox. já mostrava uma alegre família



A empolgação é visível no verso da caixa do NES Action Set











Aqui não temos a família feliz: Colecovision













Eu iria dizer que o Intellivision era outra exceção, mas na caixa da versão japonesa podemos ver um apaixonado casal. O rapaz não está nem um pouco satisfeito com a vitória da namorada








Muitas imagens familiares na caixa do Atari VCS













A pior caixa de todos os tempos: Telejogo Philco/ FORD. Sim, ela era assim mesmo: toda de papelão, sem nenhum detalhe














Atari 5200, seguindo o mesmo layout do 2600, mostrando as tradicionais imagens familiares














A caixa nacional do Master System e seus principais acessórios, o óculos 3D e a pistola Light Phaser














A caixa do Mega Drive nacional, com a imagem
do jogo Altered Beast, que acompanhava o console















A caixa do belo 3DO FZ1


















E o obscuro Philips CD-I




















Sega Saturn em um de seus vários modelos

















E a caixa mais bonita de todos os
tempos, em minha opinião. Aliás, o melhor lugar para um Jaguar é exatamente esse: guardado em sua caixa. Porque fora
dela...