domingo, 25 de novembro de 2007

Restaurando caixas de videogames : aprenda a restaurar as caixas de seus consoles

Há um tempo atrás eu procurava algo relacionado a restauração de caixas de videogames. Não encontrei absolutamente nada na Internet. Por algum motivo desconhecido, nunca se escreveu sobre isso, embora seja algo de suma importância para colecionadores, creio eu.

A caixa de um console talvez seja a que mais sofre com a ação do tempo. Fabricadas geralmente com papelão de qualidade inferior, com o passar dos anos elas quase que inevitavelmente sofrem algum tipo de dano.

Para restaurar essas caixas, na verdade, você não necessita de muitos conhecimentos específicos. É um trabalho relativamente fácil, no entanto um requisito é indispensável: paciência. Se você não a tiver, é melhor comprar outra caixa nova.

A caixa que escolhi para essa "revitalização" é uma das que se encontram em pior estado em minha coleção. A caixa do Odyssey 2, que apareceu por aqui apenas como Odyssey, pouco antes do lançamento do Atari 2600 no mercado nacional, o que fez dele o primeiro videogame de cartuchos lançado no Brasil.

Considerações iniciais

Uma discussão que sempre ocorre na restauração de qualquer material é: até que ponto podemos interferir na originalidade do ítem para podermos conservá-lo pelo maior tempo possível? No restauro de livros, é comum o questionamento sobre novas encadernações, em couro, de brochuras publicadas no início do século XX, que são geralmente edições de péssima qualidade com encadernações idem. Uma nova encadernação descaracterizaria a obra, segundo alguns, embora seja inquestionável o aumento da vida útil do livro que isso proporcionaria. Para colecionadores de videogames, muitos não permitem que modificações sejam feitas no console, como é o caso das entradas AV adaptadas em antigos consoles de saída RF.

De qualquer forma, não estamos falando aqui do console em si, mas de sua embalagem, que originalmente tem o exclusivo papel de acondicionar o videogame. No entanto, para fins de colecionismo, essas caixas adquirem um papel muito mais nobre. Intervenções radicais em caixas também podem ser motivo de polêmica para alguns. No entanto, essa caixa encontrava-se em estado terminal, é preciso que isso seja dito.

Por isso eu decidi modificar todo o seu interior, com a incorporação do papel Panamá, o que confere uma rigidez muito maior à caixa, já muito fragilizada. Em suma, se algo a respeito não fosse feito, essa caixa não duraria muito. Agora, tenho esperança de que ela dure pelo menos uns 40 anos. :)

Vamos às ferramentas necessárias:

- Papel Panamá gramatura 120
- 1 régua de aço 60 cm
- Estilete
- Percalina
- Cola Adesivo PVA Cascorez ou similar
- Cola branca comum(só para retoques)
- Álcool ou acetona para retirada de durex, se existirem
- Nugget
- Silicone


A primeira coisa a ser feita é acabar com os durex e fitas adesivas presentes na caixa. Se eu pudesse dar apenas um conselho a respeito de conservação de papel a qualquer pessoa, eu diria: "Nunca utilize durex ou qualquer espécie de fita adesiva". Eu sei que a idéia é tentadora e em um primeiro momento a colagem com esses materiais dá uma vida nova ao papel, mas com o tempo a cola presente nesses materiais, geralmente de má qualidade, tende a soltar. Ademais, essas colas são extremamente ácidas e elas inevitavelmente passam para o papel, formando manchas indesejáveis de retirada extremamente difícil. Se for para colar algo, utilize cola. Durex, nunca!
No caso dessa caixa, eu retirei cerca de 20 cm de fita adesiva em um dos lados da caixa. Essa é uma das partes mais delicadas, portanto tome cuidado. Nos EUA existe um produto que retira facilmente essas fitas, cujo nome não me recordo agora. Aqui no Brasil, podemos utilizar primeiramente o álcool. Caso a fita esteja com a sua cola já fragilizada, será o bastante. Se o álcool não for eficaz, utilizaremos acetona. Mas com um detalhe importante: Devemos testar a solubilidade das tintas existentes na caixa, principalmente quando se utiliza a acetona. Teste em uma pequena área do canto da caixa: pingue um pouco de acetona (cuidado). Se nada acontecer, a tinta não se dissolver, utilize, mas tome cuidado. Coloque um pouco de acetona em um palito, enrole-o com algodão e vá girando ele, em contato com a fita, à medida que você vai puxando, como mostra a foto.


Para o acondicionamento interno, corte o papel panamá, medindo cada uma das partes e laterais internas da caixa para o tamanho adequado. Com a ajuda da régua, como mostra a foto, corte o papel com o estilete, passando pelo menos 2 vezes sobre o papel, devido à alta gramatura do Panamá.









Em cada um dos cantos da caixa, devemos fazer um reforço, pois, se não o fizermos, esses cantos tendem a sofrer uma pressão por parte do papel panamá, correndo sérios riscos de rasgar. Então em cada um dos cantos de cada pedaço de papel panamá que você cortar (exceto aqueles que não sejam "vizinhos" de outro pedaço de panamá, naturalmente), cole um pedaço de percalina, como reforço. A percalina é comumente utilizada para encadernação de livros e é um material muito resistente, portanto, aguentará a pressão. Ela pode ser adquirida em boas papelarias.



Após cortar tudo e colar os reforços, devemos fixar o Panamá diretamente no interior da caixa. Nessa etapa, utilizaremos o adesivo PVA, pois a cola branca comum não será o bastante. O tempo de secagem dessa cola é de 3 a 4 horas e deve ser feito sob prensagem. No meu caso, eu utilizei uma montanha de livros para prensar cada uma das partes. Não esqueça de prensar todas as partes da superfície, especialmente os cantos porque, se você prensar o meio e se esquecer dos cantos, estes correm o risco de se soltar. E lembre-se: cada um dos pedaços de Panamá devem ser prensados por 3 a 4 horas. Essa é decididamente a parte mais demorada de todo o processo.

Abaixo, temos a situação do interior da caixa, antes e após a intervenção. O essencial desse processo foi que adicionar o Panamá conferiu rigidez à caixa. Infelizmente isso a foto não consegue mostrar:































Terminada a parte interna, partiremos para a parte externa da caixa. Essa parte não tem muito segredo e depende do bom senso de cada um escolher o que deve ser feito. Grande parte dos danos serão sanados, provavelmente, com cola. No meu caso, além de remendar aquelas partes soltas externamente, eu utilizei Nugget, não sem ficar um pouco receoso com a utilização do mesmo. Mas como a caixa do odyssey é composta principalmente pela cor preta e existiam muitas partes rasgadas, eu optei pela utilização desse produto. O resultado final foi surpreendente. Mas é bom utilizá-lo com moderação, aplicando-o somente nas áreas extritamente necessárias.


Por último, eu apliquei um pouco de silicone para dar resistência e brilho principalmente àquelas áreas onde foi aplicado o Nugget, que corriam o risco de ressecar. Abaixo, mais algumas fotos da situação anterior e posterior ao processo de restauração:
































E mais algumas pós restauração (infelizmente não tirei muitas fotos da situação anterior da caixa, que era lastimável - grande falha a minha :P):



















































17 comentários:

Fábio disse...

"Por último, eu apliquei um pouco de silicone"

Eu sabia que uma hora ou outra isso ia acontecer...

Fernando Silva disse...

hauhuahauhauhauha

Consegui realizar primeiro seu maior sonho!

Gil Nunes disse...

Prepare-se para a enxurrada de pedidos de restaurações de caixas. Impressionante, não sabia desse seu potencial. Mas a aplicação do silicone... huahahuha

Joanita disse...

Pelo jeito há um novo desafio a vista para o super restaurador. Vai ter que mostrar os resultados também.
:P

Unknown disse...

Incrivel seu trabalho!!! Está de Parabéns!!!
Me fez recordar do meu velho console,outra coisa que reparei foi no Livro Conto de Natal, hauhauhauhauha
Não sei pq mas reparei nesse detahe!

Fernando Silva disse...

Charles Dickens é muito bom hahaha
Odyssey comanda! Didi na mina encantada detona completamente!

Gil Nunes disse...

Acetona, álcool e silicone. Isso me parece coisa de amador. Não seria perigoso um implante nessas condições?
A acetona no caso seria para retirar o esmalte?
Srsrs

Anônimo disse...

Po cara, exelente trabalho.

Devias postar como restuarar os consoles, alguns consoles depois de muito tempo ficam meio amarelados, com o Snes por exemplo.

Anônimo disse...

Muito bom o trabalho... Gostaria de saber se vc poderia me mandar fotos da sua caixa (todos os lados) ou mesmo a imagem scaneada. Sou Designer Grafico e gostaria de fazer uma caixa para o meu Odyssey.
Abraços

Tulio disse...

muito foda, parabens....

Unknown disse...

Que silicone exatamente vc utilizou? Em spray, gel, liquido? Patabens pelo post, muito legal!

Fabricio disse...

Como faço para retirar a fita adesiva? Na caixa do meu SNES tem muita fita na parte externa, se eu puxar vai rasgar as gravuras :(

Marcelo disse...

Boa tarde fernando, será que vc poderia postar as imagens da caixa do Odyssey em alta resolução se possivel junto com as medidas, para que mais pessoas que tenham o console pudessem imprimir e fazer a caixa, desde já agradeço!

Unknown disse...

Qual foi o silicone ultilizado amigo,ele respondeu?

Unknown disse...

Queria saber a marca do Silicone e se foi gel ou líquido...?

Dagnone disse...

Olá. Caí em seu site por acaso. Sou colecionador de Game & Watch da Nintendo e minhas caixas eu protejo com Con-Tact transparente cuidadosa e criteriosamente aplicado. Embora a quase totalidade dos demais colecionadores torçam o nariz pra esse meu processo de blindagem/proteção, estou absolutamente nem aí pra isso: o que os críticos não entendem é que Con-Tact NÃO É Durex, fita adesiva ou qualquer coisa semelhante; é um selador poderoso para as caixas pequenas de Game & Watch e que, bem aplicado, faz com elas ganhem extraordinária resistência, brilho e proteção nas partes móveis (flaps). Como não venderei ou negociarei qualquer item de minha coleção (que há de passar para meus filhos - e aí eles poderão fazer o que quiser com ela, inclusive jogar fora!) e isso me deixa satisfeito, sigo blindando tudo que é precioso para mim. Parabéns por compartilhar seu processo de recuperação de uma caixa grande. Por sinal, estou com o mesmo problema e não me sinto seguro em aplicar Con-Tact numa caixa bem maior (parecida com a do Odyssey)!

Anônimo disse...

sou de Portugal e queria recuperar uma caixa de um jogo português, não sei bem o tipo de material da caixa, mas tem alguns rasgões e queria recuperar a caixa. Devo recuperar o interior e o exterior tal como fez? Obrigado