segunda-feira, 12 de novembro de 2007

O primeiro contato


O ano era 1989.

O mundo vivia a queda do muro de Berlim, e me lembro claramente de assistir pela TV o repórter Pedro Bial em cima do muro que dividia as duas Alemanhas.

1989 também foi o ano em que me mudei em definitivo para Ourilândia do Norte. Até então, eu morava na fazenda com meus avós, e por lá havia cursado o meu primeiro ano. Me lembro da primeira carta que enviei à minha mãe. Na carta, pedi um boneco do superman que como haviam me relatado, voava. Minhas primas que moravam em Goiânia haviam me contado essa mentira, e eu inocentemente acreditei. Talvez isso tenha contribuído para que depois de alguns anos em que finalmente pude entrar em contato com os quadrinhos, eu tenha tomado ódio do Superman, tornando-me um fã do Batman.

Mudar para a cidade, foi sem dúvida alguma um dos grandes desafios da minha vida. Meu avô sabia que para o meu próprio bem eu devia ir, no entanto, sempre fazia questão de advertir quanto aos problemas que eu por ventura encontraria e como deveria me defender. Além do mais, ele acreditava que eu poderia tranquilamente estudar até a 4ª série do ensino fundamental na fazenda, mas ir para a cidade era uma exigência de minha mãe e contra isso, ele pouco podia fazer.

Energia elétrica era uma palavra que passava longe do meu imaginário naquela época, no máximo, quando queríamos assistir alguma coisa, tínhamos que implorar para meu tio tirar a bateria da lendária C-10 para que pudéssemos assistir algum filme do Silvester Stallone na tela quente, ou Sheena – A rainha da Selva na sessão da tarde. Geralmente, perdíamos a batalha porque meu tio dava mais ouvidos para as mulheres que obrigatoriamente exigia que a tv deveria ser ligada no horário das novelas. Isso era triste, mesmo assim, um dos marcos da minha vida são exatamente duas novelas desse período: Que rei sou eu? E Top Model. Ao menos a última tinha na trilha sonora uma música do Led Zeppelin. Enquanto que a primeira era uma divertida sátira da política brasileira.

Tudo era fascínio na minha nova vida. Na escola, os garotos criavam histórias imaginárias de que no “estrangeiro” já havia sido lançado até o Rambo 10. Todo garoto que vivia em Ourilândia na época tinha um álbum de figurinhas do He-man, uma faca de plástico do Rambo e uma faixa vermelha que era usada pelo herói, sem contar dos Iô-Iôs coloridos dos salgadinhos skynny. Se não quisesse ser excluído dos grupos, obrigatoriamente você devia consumir skynny e ter todos esses acessórios. O Skynny na época era uma espécie de salgadinhos da Elma chips de nossos dias. Éramos fascinados por todos esses elementos, mas alguma coisa ainda faltava. E essa “coisa” veio um pouco mais tarde.

No final de 1989 eu já estava terminando a minha terceira série do ensino fundamental. Minhas notas eram razoavelmente boas, mas não tão incríveis como as da primeira série. Não consigo me lembrar com exatidão dos meus colegas de classe, mas tenho memória fresca para o soco que levei na boca de um sujeito que choquei durante o intervalo (tudo porque corríamos como desesperados e isso nunca foi explicado. Afinal, porque diabos crianças correm sem direção no intervalo de aula?). Mas enfim, depois de chorar como um covarde eu constatei que meu dente ainda se encontrava no lugar e isso me acalmou. Srsrs. Mas eu devo grande parte da minha nova descoberta a esse soco proferido. Afinal, se não fosse por ele, eu não teria pedido escolta ao Jackson* para voltar pra casa. E foi durante a volta pra casa, que vi pela primeira vez uma tv que você mesmo controlava sua programação. Eram os fliperamas que haviam chegado em Ourilândia. Atônitos, vários garotos de minha idade, assistiam fascinados os movimentos feitos por uma galera mais velha que pareciam bem familiarizados com aquelas máquinas. Um determinado jogador demonstrava grande experiência e conseguia desviar de vários projéteis com sua nave intergaláctica. Eu estava fascinado com tudo aquilo. Mas no canto da sala estava reservada a maior surpresa daquele lugar. Um jogo onde não se apertava botões, você usava apenas duas alavancas para executar o golpe. O primeiro jogo de luta que vi. Um carateca que gritava “iponnn” toda vez que vencia o adversário. Nunca mais vi esse jogo na vida, e o máximo de coisas que sei sobre ele é o que acabei de relatar. No entanto, assim que começávamos a ficar treinados nos movimentos, cruelmente o dono do fliperama invertia os fios e tínhamos que memorizar uma nova sequência para vencermos o adversário. A primeira crueldade capital com a qual me deparei. Não era interessante para o proprietário que com uma única ficha você chegasse ao final do jogo. Começávamos tudo de novo, mas isso não importava, o futebol tinha um novo adversário... e muito forte.

Justificar

* Jackson era uma espécie de capitão do time da escola. Todo mundo o respeitava. Além de proteção, andar com o Jackson poderia melhorar sua "moral" com as garotas. Srsrs

11 comentários:

Fernando Silva disse...

hahaha
Muito bom cara!!!
Aquelas faixas do rambo eram clássicas demais!
Esse jogo a que você se refere não é o Karateka?

Fernando Silva disse...

Ourilândia do Norte!
Skiny!
Não sei qual é mais underground! haha

Gil Nunes disse...

Kra, não sei. Mas seria bom descobrir. Acho que no início ele dizia algo como: rockman... hauauhauh

Fábio disse...

"Apesar de ser fumante, ele sempre dizia que eu devia ficar longe do cigarro. Fielmente, segui seus conselhos, e até hoje sequer experimentei essa droga."

Lição de moral em blog? parei de ler nessa parte...

Gil Nunes disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Se fosse a Fernanda vc não teria parado. Que raiva! (2)

Unknown disse...

Gil sua História de primeiro encontro com os videogames me emocionou..kkkkkkkkkkkkkkk..
sua putinha de tangamandapioo..heheh

cara q lokura eh esa?..ta show u blog dscupa pela demora d vir visitar ele ok..flow brother abraços seu PUNK!

BY: SHADOW KILLER

Unknown disse...

Me responde uma coisa!

Ourilandia do norte é de passar no cabelo ou de comer?

hauhahahauha

Mas comparar com o Skiny é sacanagemmmmm....
hahahahaha

Gil Nunes disse...

Kra, Ourilândia do Norte é o berço da civilização. srsrsrs
Em breve trarei novos relatos das duas cidades que marcaram profundamente a minha infância e o meu contato com o mundo dos games.
Aguarde para breve, momentos emocionantes das duas cidades pólo do Pará:
Ourilândia do Norte e Tucumã.Srsrss

Unknown disse...

Cara! Esse relato me rendeu muitas gargalhadas! "Skynny", "faca de Plástico", "boneco do Superman que voava", "Soco na boca", "Tvs que vc controlava a programação"... chega, vou chorar de rir! Muito massa, adorei! Este blog está muito show! É de um desses que nós, amantes dos games, estávamos precisando. Vlw mesmo, parabéns a vcs.

Ricardo disse...

EEEi sumano sua história parece demais com a minha, também era fascinado por fliperamas, sou de Belém. Boas lembranças.